Sesc Avenida Paulista apresenta “Tornar-se ORLAN”

Sesc Avenida Paulista apresenta "Tornar-se ORLAN"
CORPS SCULPTURE – ORLAN ACCOUCHE D’ELLE M’AIME

Panorâmica da artista performática reúne uma série de obras protagonizada pelo seu corpo, desde a década de 1960 até os dias atuais

O Sesc Avenida Paulista, em São Paulo (SP), apresenta até 28 de janeiro de 2024 a exposição “Tornar-se ORLAN”, da artista performática francesa ORLAN, com uma série de obras protagonizada pelo seu corpo, desde a década de 1960 até os dias atuais, como fotos, vídeos, esculturas e instalações interativas com recursos de Inteligência Artificial.

A primeira mostra individual de ORLAN em toda América do Sul percorre as seis décadas de carreira da artista francesa, privilegiando mais de 60 trabalhos de uma produção atenta às questões latentes e tecnologias disponíveis de cada época. Com radical poética voltada ao feminino, a partir de uma perspectiva feminista, a exposição, com curadoria de Alain Quemin e Ana Paula Simioni, inclui fotografias, vídeos e esculturas, desde performances seminais, como “Corpos-esculturas” da década de 1960, até “ORLANoide”, uma robô da artista constituída por Inteligência Artificial, que poderá interagir com o público em português, inglês e francês.

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Desde 1964 a artista renuncia o seu nome de batismo e adota ORLAN, obrigatório em letras maiúsculas, como um modo de contestar o enquadramento das mulheres à sociedade patriarcal, presente desde o nascimento pela adoção do nome paterno, depois, dos maridos. A partir dos princípios bem estabelecidos em seu manifesto “Arte Carnal”, ORLAN faz do corpo um ready-made modificado, isto é, um lugar de debate público. O corpo é matéria e suporte de uma estética de reinvenção da artista. Ao unir o estético ao político, ela investiga as formas de dominação ocidentais, atravessadas por práticas e valores normativos, como masculinidade, religião, marginalização cultural e racismo.

No período dos anos 1970, ORLAN produziu performances, com destaque para “O beijo da artista”, em que simula seu corpo como uma máquina de vender beijos. Nela, a partir de um pagamento módico, os visitantes podiam escolher entre acender uma vela para glorificar a efígie de Santa ORLAN ou beijar (com a língua) a própria artista. No mesmo período realiza uma série de ações em espaços públicos, “ORLAN-Corpos”.

Já na década de 1990, a artista notabiliza-se pela obra “A reencarnação de Santa ORLAN”, para a qual se submete a nove cirurgias plásticas sob efeito de anestesia local para manter a consciência e dirigir o trabalho, transmitido via satélite para vários lugares, entre os quais as galerias de arte da Europa. Em algumas dessas performances, crânios, frutas e legumes estão incluídos no cenário; em outras, ORLAN lê textos ou faz desenhos com o próprio sangue. Os objetivos de tais trabalhos foram debatidos em seu “Manifesto de Arte Carnal” [Manifeste de l’Art Charnel, 1990]. O que a interessa é “o processo operação-cirurgia-performance e o corpo modificado como tema de debate público”. 

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Dos anos 1990 aos 2000, ORLAN produz uma série de autorretratos “Desfiguração-refiguração” (1998-2022), em que seu rosto se mistura a outras culturas. As hibridizações, mais do que sobreposições de imagens, propõem uma verdadeira colagem de femininos, potencializada pela soma de referências, sejam elas ocidentais, não ocidentais, pré-colombianas, africanas ou asiáticas. Já em “Auto-hibridizações entre mulheres” (2019) traz uma tiragem de fotos separada em atos denominados “As mulheres que choram estão com raiva”, nos quais dialoga com obras célebres de Picasso, mas invertendo a passividade de suas “musas”.

Por sua vez, “ORLANoide” (2018/2023), criada por meio da biohacking (técnica que usa tanto a tecnologia quanto a biologia para formar humanos capazes de elevar seu desempenho corporal ao nível máximo), convida o espectador a seguir as etapas de elaboração desta humanoide – autorretrato em escultura animada de ORLAN –, para entrar nos bastidores de sua fabricação: da modelagem à inteligência artificial. A robô fala, canta, criando um espetáculo visual real e um deep learning theater (aprendizagem profunda, baseia-se em um conjunto de algoritmos relacionados ao machine learning e suas aplicações no mundo real são cada vez mais tangíveis). Adaptada para a exposição no Sesc São Paulo, “ORLANoide” utiliza tecnologias ainda mais atuais que vão possibilitar ao público interagir com a artista em português, além do inglês e francês. O público pode interromper esse processo aproximando-se do microfone, pressionando o botão e mantendo-o pressionado pelo tempo necessário para fazer sua pergunta. Ao soltar o botão, a ORLANoide registrará a pergunta e responderá.

A exposição é realizada com o apoio da Embaixada da França no Brasil e o Institut Français.

Sobre ORLAN

“Eu sou ORLAN, entre outros e na medida do possível. Meu nome está escrito em letras maiúsculas porque não quero entrar na fila, não quero me encaixar.”

ORLAN, nascida na cidade industrial francesa de Saint-Etienne, é hoje uma das artistas visuais mais aclamadas internacionalmente. Ela vem criando continuamente há quase seis décadas.

Embora seu nome esteja associado principalmente à performance e às fotografias que dela resultam, seu trabalho não se limita a um único meio ou técnica. Além dessas modalidades, ORLAN trabalha com pintura, escultura, colagem, vídeo, videogames, biotecnologia, inteligência artificial e até mesmo robótica. De todas as artistas francesas contemporâneas, ela é a que aparece com mais destaque nos livros didáticos internacionais de história da arte, especialmente naqueles dedicados à história da performance, da body art, da arte feminista e das novas tecnologias na arte.

Suas obras estão presentes em diversos museus do mundo, tais como na França no Centro Georges Pompidou, na Maison Européenne de la Photographie, no Fond National d’Art Contemporain, no Museu de Arte Moderna de Saint-Etienne e no Museu de Belas Artes de Nantes; nos Estados Unidos no LACMA County Museum of Art e no Getty Museum; assim como no National Museum of Art, em Osaka, Japão. Participou de inúmeras exposições internacionais, dentre elas a Bienal de Veneza (em 1986, 1993, 1997, 2007, 2009, 2013 e 2017). Também foi objeto de diversas exposições monográficas. Atuou ainda como professora junto à  École Nationale Supérieure d’Arts de Paris-Cergy.

Foi agraciada com diversos prêmios e condecorações, como Chevalier de l’Ordre National du Mérite, prêmio outorgado pelo ministro da cultura François Miterrand em 2010; e em 2013 o grande prêmio E-REPUTATION, por ser a artista mais procurada na internet naquele ano.

Serviço:

“Tornar-se ORLAN”

Visitação até 28 de janeiro de 2024, de terça a sexta-feira, das 10h às 21h3; sábados, das 10h às 19h30; domingos e feriados, das 10h às 18h30

Sesc Avenida Paulista – Avenida Paulista, 119, Bela Vista, São Paulo/SP

Entrada gratuita – Classificação etária: 14 anos

Agendamento de visitas para grupos: expo.avenidapaulista@sescsp.org.br

Informações: (11) 3170-0800

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