Websérie conta histórias de mulheres com câncer e desmistifica estereótipos sobre doença

Websérie conta histórias de mulheres com câncer e desmistifica estereótipos sobre doença
ALÉM DA CURA – ÍNDIACRÉDITO: DIVULGAÇÃO

No mês do Outubro Rosa, “Além do Câncer” aborda potências e fragilidades femininas e ressalta que câncer não é uma sentença de morte

Alejandra, Janet, Momo, Suzana e Telma são cinco mulheres de diferentes países que compartilham seus medos, anseios e superações após serem diagnosticadas com câncer. Esta é a proposta da websérie “Além do Câncer”: mostrar que há cura, tratamento e esperança, pois o câncer não é uma sentença de morte.

Criada pela startup social Além da Cura, que impacta mulheres através da produção de conteúdo humanizado sobre saúde, a websérie foi lançada no último dia 16 de outubro, aproveitando a campanha Outubro Rosa, que alerta a população sobre a prevenção dos cânceres de mama e do colo de útero, e desperta atenção para o tratamento precoce da doença.

A série foi desenvolvida pela jornalista e empreendedora social Bruna Monteiro, que percorreu cinco continentes para conhecer histórias de mulheres com câncer. A nova série, que está no Youtube do Além da Cura, possui cinco episódios e aborda as fragilidades, a força e a capacidade de superação das protagonistas, convidando os espectadores a revisitarem seus preconceitos sobre o câncer. Transpassada pela vivência feminina, a série fala também sobre gênero, autoestima e propõe um novo olhar sobre o enfrentamento do câncer e da vida.

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Uma das questões mais presentes na série é a diferença de gênero no enfrentamento do câncer. A queda de cabelos, por exemplo, que é um dos efeitos colaterais da quimioterapia, gera mais prejuízos emocionais às mulheres do que aos homens. Isso acontece porque as mulheres sofrem muito mais pressão estética desde a infância em busca de padrões de beleza irreais.

O câncer também afeta a vida privada. De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, 70% das mulheres com câncer de mama lidam com a rejeição de seus parceiros. Isso significa que, em um momento de extrema fragilidade, elas ficam desamparadas e precisam superar o abandono. Ainda no âmbito familiar, vale ressaltar que a doença também impacta os lares chefiados por mulheres que são responsáveis pelo sustento da família, pelos cuidados com os membros da família e pelas tarefas domésticas. Quando elas adoecem, existe a necessidade de uma reorganização da dinâmica familiar.

Baixa inserção no mercado de trabalho

Os dados referentes ao mercado de trabalho também mostram um cenário adverso. O estudo “Retorno ao trabalho após o diagnóstico do câncer de mama: Estudo prospectivo observacional no Brasil”, liderado pela oncologista Luciana Landeiro, do Grupo Oncoclínicas, revelou que mulheres com diagnóstico de câncer de mama, incluindo aquelas que já enfrentaram a doença, têm menos chances no mercado de trabalho.

Realizada com mulheres com idade entre 18 e 57 anos, a pesquisa constatou que 81% das pacientes tinham emprego em tempo integral e 59,5% afirmaram ser as principais responsáveis pela renda familiar. A maioria das pacientes (94%) gostava do trabalho e recebeu apoio de seu empregador (73%) depois da identificação da doença. Seis meses após o diagnóstico de câncer de mama, a taxa de retorno ao trabalho foi de 21,5%. Um ano após o diagnóstico, essa taxa alcançou 30,3% e, dois anos depois do diagnóstico da doença, o percentual registrado foi de 60,4%.  Nos Estados Unidos e na Europa, esse percentual é superior a 80%.

BRUNA MONTEIRO
BRUNA MONTEIRO – Divulgação

Empoderamento feminino

As sementes de Além do Câncer começaram a ser plantadas em 2015, quando Bruna escreveu o livro-reportagem “O Peso do Vento”, após descobrir que um amigo de infância estava com câncer. Na época, a notícia lhe causou um grande impacto emocional, pois ela associava a doença à abreviação da vida. Conforme aumentava sua conscientização sobre o tema, Bruna passou a questionar se homens e mulheres eram afetados da mesma maneira pela patologia. No livro, ela investiga a relação entre mulheres com câncer e a perda de cabelo causada pela quimioterapia.

Pouco tempo depois, Bruna decidiu se aprofundar no tema e contar histórias de mulheres com câncer que ultrapassassem a perda capilar e suas repercussões estéticas e emocionais. Ela realizou uma campanha de financiamento coletivo e viajou para 100 cidades em dez países ao redor do mundo. O resultado foi o documentário “Além da Cura”, que, posteriormente, transformou-se em uma startup social que impacta mulheres por meios da produção de conteúdo humanizado sobre saúde. Em 2017, foi lançado o curta-metragem “Além da Cura – Europa”, que apresenta a parte europeia do conteúdo mostrado no documentário.

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Em 2020, foi a vez da websérie “Além da Cura: O Que Nos Une?”, que mostra mulheres com câncer em episódios narrados em primeira pessoa por Bruna. Em março de 2021, mês do Dia Internacional da Mulher, foi lançada a websérie “Espelhos d’Água – As Diferentes Percepções Delas”, de maneira gratuita em plataformas digitais. Diferentemente dos trabalhos anteriores, a série não se restringe ao câncer e apresenta outras temáticas como maternidade, saúde sexual, saúde mental, empoderamento feminino, doenças crônicas e traz reflexões de 11 mulheres de oito países (Brasil, Argentina, Portugal, França, África do Sul, Quênia, Austrália e Alemanha).

Em sete anos de trabalho, a startup Além da Cura já mobilizou mais de 100 voluntários e impactou mais de 2 milhões de pessoas ao redor do mundo, por meio de ações, eventos e conteúdos como filmes e podcasts.

Desfile

Outra ação promovida pelo Além da Cura será o desfile “Elas Vão Além”, no dia 26 de outubro, em Recife (PE). O evento, que visa aumentar a visibilidade de mulheres com histórico de câncer, ocorrerá às 17h e é uma oportunidade para reafirmar a beleza e a potência das participantes. No dia do desfile, ocorrerá um leilão de peças doadas por artistas pernambucanos cuja renda será revertida para o Hospital do Câncer de Pernambuco.

O evento ocorre anualmente e cerca de 20 mulheres participam desse momento de renovação da autoestima. Com o apoio da promotora de eventos Carol Fernandes, as participantes ganham um dia de beleza, com maquiagem, penteados e fotografias.

Arleide Dutra, voluntária do Hospital do Câncer de Pernambuco e da Rede Feminina, venceu o câncer de mama, pulmão e fígado após dez anos de tratamento. Ela participou do desfile em 2019 e enxergou ali um espaço de celebração, acolhimento e renovação da autoestima. Neste ano, Arleide pretende participar do desfile novamente.

“A gente incentiva outras mulheres a levantar a autoestima. Eu me sentia belíssima com todo o cuidado delas com a gente, todo o amor, todo o carinho e toda a compreensão. Eu me sentia mais do que uma rainha. O Além da Cura me ensinou a ter mais força de vontade para ajudar outras mulheres, pra me cuidar, pra fazer uma maquiagem. A nossa autoestima levantou, a minha levantou até hoje”, relata.

A costureira Elineide Maria da Silva também teve uma experiência semelhante em 2019. Ela descobriu o câncer de mama em 2016, realizou mastectomia e perdeu os cabelos devido à quimioterapia. O desfile fez com que Elineide se sentisse viva novamente. “Foi maravilhoso. A gente se sente outra pessoa, esquece o sofrimento do câncer porque eu sofri muito. O câncer me levou quase à morte. Eu me senti viva de novo, me senti muito linda. Pra mim serviu de exemplo porque, quando temos câncer, achamos que tudo acabou e não existe mais nada, mas o projeto Além da Cura foi a melhor coisa que existiu e existe ainda, pois ajuda tantas mulheres. Eu fico muito feliz de participar desse projeto”, comemora.

Serviço:

Desfile Elas Vão Além

Dia 26 de outubro, às 17h

Casa Rosada – Avenida Santos Dumont, 657 – Rosarinho, Recife (PE)

Informações: https://www.alemdacura.com/

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