Conto & Prazer: Sem destino

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Imagem: canva.com

Era apenas mais uma noite de verão em que eu estava ali parada, contando quantas vezes a mesma mariposa batia na lâmpada do poste.

Uma, duas, vinte e cinco, quarenta e três. Nessas e outras já tinham ido quatro chicletes, um de cada sabor e eu grudava a gosma com a marca dos meus dentes no poste.

Ficava olhando…eu queria mesmo era deixar a marca dos meus dentes numa bunda peluda com cheiro de sabonete.
Cento e vinte oito, cento e vinte e nove. Coitada da mariposa, vivendo e morrendo na luz.

Ui! Buzinou! Affff, não dava para sair correndo com esse saltão e a porta já estava aberta; mas sou mais esperta, dei a volta e fui por traz do caminhão, vi o seu reflexo no retrovisor.

Cheguei a pensar em não ir, dei dois passos para trás. Puta que pariu, ele era muito feio. O mais feio que eu já tinha visto! Nunca um outro tão feio e olha que eu já tinha visto homem de tudo quanto era jeito.

Mas aí, pensei: – E se ele tiver a bunda peluda, cheirando a sabonete? Aprumei e fui até a janela do lado do motorista.
O caminhão parecia maior do que visto de mais longe.

Fiquei toda envolvida com as luzinhas azuis da cabine e o vermelho dos bancos.

Pude ouvir que o rádio tocava Bee Gees, aí animei!

Depois do batido “oi boneca”, combinamos o preço, passei na frente do caminhão, olhei, a vista ofuscou, subi, ele me puxou e eu já quase ia caindo de boca.

Mas vi o teto solar e as estrelas daquela noite de verão e comecei a gostar.

Ele era feio, era horrível e eu passei a querer, a desejar.

“Vamos dar uma volta, gata”.

Era a brisa pelo teto solar, eram os Bee Gees, ele pegou na minha mão, a mão dele, enorme, apertou minha coxa nua, quente. Era gostoso e foi dirigindo e falando da vida, da solidão, da estrada, do calor, do suor, dos bichos, foi puxando minha calcinha com os dedos, a outra mão dirigia o caminhão monstro.

Paramos na beira da estrada. Ele abriu um compartimento na cabine e surgiu um frigobar, de onde ele tirou uma garrafa de gim, barata e geladíssima. Bebemos, beijamos com gosto forte de álcool e beijamos. Esqueci que ele era o homem mais feio que eu já tinha visto. Ele reclinou os bancos e abriu a cabine, no teto estava escrito “Motel Bali”.

Ali eu dei gostoso, transei demais, gozei ainda mais com aquele pinto imenso igual ao caminhão do homem mais feio que eu já tinha visto.

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