São Paulo: Exposição Memórias do Futuro destaca protagonismo das mulheres negras

PAINEL “FIO DA MEMÓRIA”, DA MULTIARTISTA E GRAFITEIRA PAULISTANA SOBERANA ZIZA

“Memórias do Futuro: Cidadania Negra, Antirracismo e Resistência” reúne mais de um século de lutas da população negra no Memorial da Resistência

Em 25 de julho é celebrado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Na mesma data também é comemorado no Brasil o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Em homenagem a essas mulheres e outras personalidades brasileiras que marcaram a história, a exposição “Memórias do Futuro: Cidadania Negra, Antirracismo e Resistência”, em cartaz até o dia 27 de agosto no Memorial da Resistência de São Paulo, na capital paulista, destaca trajetórias, projetos e obras dessas pioneiras e suas continuadoras.

Antes mesmo de adentrar ao museu, os visitantes são impactados com um grande painel chamado “Fio da Memória”, que mede 21 x 4,60 metros e foi criado pela multiartista e grafiteira paulistana Soberana Ziza. A obra foi inspirada pela frase “Afinal, o século XXI é negro, feminino e nosso. Basta apenas tomá-lo em nossas mãos”, publicada no “Gelefax”, jornal do Geledés (Instituto da Mulher Negra), em 1997.

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A mostra que se divide em oito eixos tem uma seção intitulada “Enfrentando a tripla opressão – O século XXI é negro, feminino e nosso”, para relembrar e homenagear a presença e o protagonismo de muitas mulheres, conhecidas ou anônimas, que integraram movimentos de luta, como o feminismo negro, que incorporou em sua agenda uma tripla articulação por gênero, raça e classe.

Neste trecho, a exposição apresenta um acervo de cartazes e documentação textual do Geledés, fundado em São Paulo em 1988, e que atua desde então em prol de causas como a saúde da população negra, violência contra mulheres, direitos reprodutivos, o direito ao aborto seguro, entre outras pautas. Também é dado destaque às edições do “Mulherio”, jornal feminista criado por pesquisadoras da Fundação Carlos Chagas e publicado entre 1981 e 1989.

No eixo “Repressão, vigilância e resistência, 1930-1980”, a memória de Helenira Resende, nascida em 1944 em Cerqueira César (SP), é resgatada por meio de documentos. Líder estudantil e militante política, tendo ocupado o cargo de vice-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Helenira foi considerada desaparecida política até 1972, ano em que foi assassinada aos 28 anos, após uma trajetória de luta e resistência à ditadura militar no Brasil.

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Na seção “Literatura negra: o direito à imaginação”, recebem destaque nomes como o de Maria Carolina de Jesus, autora de “Quarto de Despejo: Diário de uma favelada” (1960), que nasceu a partir de registros do seu cotidiano na favela. Com o apoio do jornalista Audálio Dantas, Carolina lançou ainda outras quatro obras, sendo uma póstuma.

Jornal e Cartaz – CRÉDITO: DIVULGAÇÃO

Em “Espaços de sociabilidade e resistência: as ruas, os salões, e os palcos como lugares de direitos”, a memória de Madrinha Eunice, nascida em 1909, é relembrada. Ela foi comerciante e fundou, em 1937, a primeira escola de samba da cidade de São Paulo, a Sociedade Recreativa Beneficente Esportiva Escola de Samba Lavapés. Morreu aos 87 anos, mas seu legado e memória continuam vivos, seja na permanência das atividades da escola de samba ou na recém-inaugurada escultura de bronze localizada na Praça da Liberdade.

A mostra reconta diferentes experiências subjetivas e coletivas de mulheres e homens negros, que formaram conexões de lutas por direitos, solidariedade antirracista e afirmação da vida negra, com cultura e lazer, como forma de resistência. A curadoria foi realizada pelo escritor e sociólogo Mário Medeiros, com o apoio da historiadora Pâmela de Almeida Resende e da pesquisadora Carolina Junqueira Faustini.

A exposição reúne 450 itens divididos entre fotografias, cartazes, revistas, jornais, documentos da repressão e manifestações artísticas, e foi criada em colaboração com organizações e coletivos convidados, como a Coalização Negra por Direitos, a revista “O Menelick 2º Ato”, a Capulanas Cia de Arte Negra e o Ilú Obá de Min, em parceria com os arquivos e acervos de cultura negra no AEL – Unicamp, o Arquivo Público do Estado de São Paulo, o Museu da Imagem e do Som, a Pinacoteca do Estado e o Condephaat.

Serviço:

“Memórias do Futuro: Cidadania Negra, Antirracismo e Resistência”

Visitação até 27 de agosto, de quarta a segunda-feira, das 10h às 18h

Memorial da Resistência de São Paulo – Largo General Osório, 66 – Santa Ifigênia – São Paulo (SP)

Ingressos gratuitos, com retirada na bilheteria do local ou no site memorialdaresistenciasp.org.br

Classificação etária livre

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