Barbie levanta discussão sobre violência psicológica contra a mulher

Barbie levanta discussão sobre violência psicológica contra a mulher
Margot Robbie interpreta Barbie – Foto: Divulgação

Como o filme da boneca trouxe à tona questões importantes para o agosto lilás

ATENÇÃO: Este texto pode conter spoilers de Barbie, O Filme. Se você for uma pessoa sensível a isso, melhor não prosseguir com a leitura.

O filme Barbie, lançado no mês de julho estrategicamente para aproveitar o período de férias de meio do ano e o pico de movimento nos cinemas, conseguiu a façanha de se tornar a maior estreia do ano de 2023. Por meio de uma trama complexa, a famosa boneca segue em uma jornada para entender o que está acontecendo com ela, que passa a ter sintomas de perda da magia que lhe é inerente, o que afeta toda a Barbieland. Porém, o filme se revela bem mais profundo, trazendo elementos que conduzem a reflexões importantes do universo feminino e tratando alguns tabus sociais de forma bem-humorada.

Sendo ou não intencional, o hype do filme continua durante agosto, levantando discussões importantes sobre aspectos da violência contra a mulher, temática do mês lilás. É possível observar uma gradual humanização da personagem principal, que passa a ser exposta a uma vida real, fora das fronteiras da Barbieland. Sua primeira experiência é o assédio sexual, com agressão verbal e física.

A reação de Barbie à agressão verbal de conotação sexual é ficar confusa, uma vez que no mundo de Barbie isso jamais aconteceria. Ela esperava receber palavras de apoio e incentivo, mas apenas seu corpo e sua maneira de se vestir foram percebidos por um grupo de homens.

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A situação, diga-se de passagem, é vivida diariamente por mulheres em uma sociedade que objetifica seus corpos e põe a culpa na maneira como elas se vestem. Essa é uma das violências silenciosas vividas por mulheres em todos os lugares, inclusive no ambiente de trabalho, independente de seguir ou não um dress code específico.

Quanto à importunação sexual, Barbie reage rapidamente com um soco no assediador. Imediatamente ela é detida pela polícia e o destino do agressor é ignorado no desenrolar da cena. O filme reforça, como na vida real, a impunidade do assediador.

O assédio sexual é um comportamento normatizado e se repete em todos os ambientes, com a arte imitando a vida, neste caso. A personagem também sofre assédio sexual dos próprios policiais em ambas as ocasiões nas quais é detida.

Barbie e o patriarcado corporativo

Outro arco importante do filme é a percepção da Barbie em relação à predominância masculina na Mattel, corporação responsável pela boneca mundialmente conhecida, dona do marketing do brinquedo que ditou o comportamento de gerações de crianças.

Uma cena atrás da outra só homens aparecem nas cenas dentro da companhia, com exceção da figura sempre feminina da secretária, um estereótipo comum da vida corporativa. Nos cargos corporativos, apenas homens participam. O CEO tenta justificar, mas a desculpa é esfarrapada demais, uma piada do filme e da vida real. 

O tom é de humor, mas conforme relatório da Women in Business 2022, realizado pela Grant Thornton, apenas 38% dos cargos de liderança no Brasil são ocupados por mulheres. Essa não é uma realidade muito diferente no restante do mundo, isto é, a presença feminina continua sendo minoria em cargos de liderança.

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O Ken também descobre a dominância masculina promovida no mundo real e decide levar o modelo para Barbieland, que fica arrasada em ver suas amigas tão capazes reduzidas a unicamente servir aos homens. A personagem fica deprimida, sem perspectiva, o que, diga-se de passagem, é uma das consequências enfrentadas por mulheres vítimas de violência psicológica.

Vale salientar que, no cenário em que as Barbies estão no comando, os Ken não eram obrigados a servir às mulheres e nem mesmo tinham seus corpos sexualizados.

Barbie sofre com manterrupting, mansplaining e gaslighting, situações em que sua fala é interrompida por um homem; quando um homem passa a explicar para ela algo óbvio como se ela não tivesse capacidade de entender; quando um homem tenta fazer com que ela se sinta inadequada ou até fora da sua capacidade mental ao defender suas ideias.

Todas essas situações são vividas corriqueiramente por mulheres no trabalho e em outras situações de vida.

Virando a mesa contra a violência à mulher 

Durante o filme, as personagens femininas recobram seu protagonismo após se qualificarem em relação ao seu valor e capacidade, criando uma rede de apoio e sororidade. Essa é uma jornada não apenas da Barbie, mas de todas as mulheres.

O desafio de envolver os homens para também entrar em campo na defesa de uma sociedade com equidade de gênero, oferecendo oportunidades para homens e mulheres e, acima de tudo, reconhecendo as diferenças.

Os homens também precisam reconhecer comportamentos tóxicos e ter mais respeito pelas mulheres. É trabalho das instituições públicas e privadas promover essa discussão, políticas para a inclusão, qualificação e empoderamento feminino em todas as frentes.

O filme Barbie rega uma semente já plantada, mas é preciso fazer desse hype mais do que uma onda rosa, transformá-la numa onda lilás contra a violência à mulher, em todos os aspectos. 

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