Você já conversou com uma sexóloga?

No dia do sexo, Eryka Mahya traz luz a alguns tabus como squirt, porque homens pedem anal e orgasmo em pessoas com vulva

No dia do sexo, Eryka Mahya traz luz a alguns tabus como squirt, porque homens pedem anal e orgasmo em pessoas com vulva

O prazer se torna um enigma indecifrável quando as dúvidas e mistérios tomam lugar na cama. De acordo com uma pesquisa da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp), 60% dos entrevistados ainda tem vergonha de falar sobre sexo.

Debater abertamente sobre esses momentos íntimos ultrapassa um diálogo de entretenimento e prazer. Aliás, falar sobre sexo diz mais sobre saúde do que se pode imaginar. Essa prática também está associada à queima de calorias e fortalecimento do sistema imunológico, aumentando em até 30% os níveis de imunoglobulina no sangue, responsável por proteger o corpo humano.

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Pensando em expandir ainda mais o processo de diálogo sobre sexo no Brasil, a Sex Shop Miess criou um e-book com os 50 sexólogos mais influentes do Brasil.   Erika Mahya, sexóloga clínica e sexóloga bodyworker é uma destas profissionais. Em entrevista, ela comenta sobre questões que todas (ou quase todas) as mulheres sempre quiseram perguntar para uma sexóloga, mas nunca tiveram coragem.

Por que algumas mulheres têm o famoso squirt e outras não?

Há pouco investimento em estudos científicos que pesquisam sobre o prazer feminino. Então, existem algumas literaturas que falam que todas as mulheres podem ter o squirt, outras que falam que nem todas, existem até cursos que ensinam a mulher a treinarem o squirt. Mas trazendo mais noção sobre o squirt em si, ele não é um orgasmo apenas, e sim uma liberação mecânica, daquele jato de pressão forte que sai pelo canal da uretra, com até um pouquinho de xixi também. A ejaculação feminina é a liberação de um líquido próximo ao sêmen masculino que sai pelas glândulas parauretrais, ou glândulas de squirting, que ficam ao lado da uretra. 

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Por que os homens pedem tanto anal?

Homens pedem tanto sexo anal porque, além das 2 mil terminações nervosas que todos nós temos, pessoas com próstatas também podem sentir orgasmos bem relaxantes, bem expansivos, diferenciados pela ejaculação peniana. Nós carregamos várias crenças e vergonhas nessa região que, por vezes, é muito tensionada. Então, toques nessa região trazem muito relaxamento e autoconhecimento sobre o seu próprio corpo e muito prazer. Por isso que os homens pedem tanto sexo anal, porque esses talvez estejam seguro que o corpo é o lugar do prazer.

É possível ter um orgasmo vaginal sem estimulação do clitóris?

Sem estimulação do clitóris é possível chegar ao orgasmo vaginal, levando a atenção para essas terminações que por vezes carregam uma amnésia motora e sensorial. Para chegar a esse momento orgástico, primeiramente precisamos identificar, imaginando que a vagina é um relógio, podemos começar a criar conexões neurais imaginando que, em direção à cabeça, o relógio está em “12”, em direção ao ânus “6”, e nas laterais “3” e “9”. Existem várias terminações que podemos despertá-las, criando mais consciência através da atenção plena. Então, por meio do seu dedo, comece a se pesquisar. Regiões de “3” e “9’’ horas são geralmente mais dolorosas porque geralmente fazem força e regiões “12” e “6” são as que temos tecidos e esponjas como a uretral (em 12) e a perineal (em 6), que podem ser exploradas para começarem a ser despertadas. Então, primeiramente, comece identificando, coloque o dedo, fique 1 minuto parada, perceba a pressão que você precisa fazer para sentir e aí você começa a fazer estímulos de vem e vai, circular ou vibracional, isso na sua masturbação mesmo. Não tenha a finalidade de chegar a algum lugar, você já está em algum lugar, que é criando uma percepção sensorial e uma conexão neural e, com o tempo, você vai se movimentar, sonorizar e respirar de forma orgástica. Espira, contrai, sonoriza, inspira e relaxa. É possível você descobrir novas ondas de prazer no seu canal vaginal.

Qual é a diferença entre a dispareunia (dor durante a relação sexual) e vaginismo? Como tratá-los?

Os sintomas de dor chamados dispareunia ou de contrações involuntárias chamados “vaginismo” são chamados de “dor genitor pélvica” porque os sintomas acabam gerando um ciclo de respostas, de dor, que geralmente são atravessadas pelo medo de sentir dor, da memória de sentir dor. Lógico que todo sintoma deve ser acompanhado por exames ginecológicos, com fisioterapeutas pélvicos ou até mesmo em terapias corporais somáticas para que haja o relaxamento dessa musculatura através da consciência, com foco no prazer, não na dor.

Quais as diferenças entre o orgasmo feminino e masculino? O que fazer para alcançá-lo?

Independentemente do gênero, todos nós temos um ciclo de resposta sexual. E os orgasmos podem acontecer de várias formas, pelas inervações do sistema simpático e parassimpático, nervo vago, nervo infogástrico… Cada ramificação desses nervos causa uma sensação para o corpo. Podemos dizer que orgasmos em pessoas de vulva, no clitóris, equivalem ao orgasmo de uma pessoa com pênis, com ejaculação. Esses são os chamados de “positivos”, porque ativam o nervo pudendo do corpo e têm uma reação simpática. O orgasmo “negativo” é do ânus e da vagina, que se equiparam, são orgasmos que acontecem com o corpo em relaxamento e, dependendo da posição que algumas posições que a pessoa estiver também. O toque no ânus pode causar bastante calor, bastante fogo, ativar bastante o sistema simpático, porque pode atingir a região do nervo hipogástrico. São reações variadas. Pessoas de pênis, por exemplo, têm uma próstata no ânus e no final dela se ativa um nervo vago, do parassimpático, que vagueia por todo o corpo, assim como em pessoas de vulva  esse mesmo termo que termina no final do útero, então transmite orgasmos profundos, com vibrações que vão ressoando como ondas que têm uma duração diferenciada. Então, cada parte do nosso corpo é uma parte única de descoberta de sensações. Para alcançar o orgasmo a gente precisa de um treino, de um estado de atenção plena. Então, precisamos primeiramente ter consciência corporal, identificando através da anatomia do corpo. Depois que identificamos, começamos a criar novas sinapses de prazer e a fisiologia do orgasmo vai acontecer através de um tripé: respiração, som e movimento que se faz quando tem esses estímulos.

Quanto tempo, em média, uma pessoa com vulva  leva para atingir o orgasmo?

Pessoas de vulva, para encontrarem o clímax, para estarem no ciclo de respostas sexual com a sua vulva, o seu assoalho pélvico entumecido, pronto para uma descarga orgásmica, precisam de no máximo 15 minutos de excitação. Em média, um orgasmo dura entre 5 e 15 segundos e esse tempo pode variar de acordo com o tipo de orgasmo e da região, da vulva, da vagina, do útero e nós podemos  treinar o nosso sistema nervoso para ter descargas orgásticas mais intensas e por todo o corpo, desgenitalizando o prazer. Essa é uma curiosidade do corpo humano.

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