Mulheres em Tóquio 2020: representatividade é OURO

As mulheres em Tóquio 2020 fizeram história nos pódios, nos recordes e na representatividade

Mulheres nas Olimpíadas Tóquio 2020 arte com imagem das atletas
Mulheres nas Olimpíadas Tóquio 2020 e a representatividade

O legado dessas atletas para as novas gerações, que passaram madrugadas em claro para torcer e estar lado a lado a cada disputa, é imenso.

Conhecemos histórias de mulheres incríveis criadas e treinadas por outras tantas mulheres incríveis. Atitudes e falas poderosas ecoaram nos ouvidos atentos de meninas em todo o mundo.

Firminas registra alguns desses momentos nesta série de matérias sobre as mulheres em Tóquio 2020. Acompanhe.

Rebeca Andrade: crescer como atleta e como mulher

Rebeca Andrade – Imagem: @rebecarandrade

Enfrentou três cirurgias no joelho direito, ficou um tempo sem treinar e ainda assim volta do Japão com superação de vários recordes e duas medalhas no peito. OURO no salto e PRATA no show que deu na ginástica artística ao som de Baile de Favela.

Rebeca é a primeira brasileira a conquistar duas medalhas na mesma edição olímpica e a primeira brasileira a ter uma medalha olímpica na ginástica artística.

A história da atleta é a história de muitas meninas brasileiras que buscam uma oportunidade por meio de projetos sociais e, quando conseguem vão a pé aos treinos e enfrentam adversidades de todo tipo, sobretudo econômicas.

Daiane dos Santos, a primeira brasileira campeã mundial em ginástica artística, em 2003, se emocionou a comentar a vitória de Rebecca: “Durante muito tempo, as pessoas disseram que as pessoas negras não poderiam fazer alguns esportes, e a gente vê hoje a primeira medalha para uma menina negra. Tem uma representatividade muito grande por trás de tudo isso. É uma menina que veio de uma origem muito humilde, foi criada por uma mãe solo, como a Dona Rosa, aguentou tudo que ela aguentou, todas as lesões, e está aí hoje para ser a segunda melhor atleta do mundo”.

Rebeca, atleta de 22 anos, da periferia de Guarulhos, São Paulo, é sabedora do seu valor e do que ela representa para as meninas do Brasil: “A gente trabalha muito para conquistar nosso espaço. Vou sempre tentar fazer tudo pra que a gente cresça no esporte e como mulher. Pra que, se eu tiver uma filha, ela seja tão forte quanto eu ou minha mãe e que ela acredite que pode fazer o que quiser.”

Rayssa Leal: skate é para meninas também

Rayssa Leal rumo a Tóquio – Imagem: @rayssalealsk8

A fadinha empoderada do skate entrou para a história como a atleta mais jovem do Brasil a ganhar medalha olímpica. Para quem acompanhou ao vivo as provas, o que mais chamava atenção era a alegria, leveza e amorosidade de Rayssa junto às competidoras.

Aos 13 anos, Rayssa celebrou a PRATA no skate street feminino ao lado de duas japonesas,  Momiji Nishiya, também de 13 anos, Ouro, e Funa Nakayama, de 16 anos, bronze. As três compuseram o pódio mais jovem da história olímpica.

Durante a prova, Rayssa dançou, brincou e vibrou muito com as manobras espetaculares de suas companheiras de prova. Esse espírito encantou a todos e a coloca como fortíssima candidata ao prêmio internacional de “valores olímpicos”.

Nas entrevistas, Rayssa sempre passa uma mensagem de incentivo às meninas. Com a medalha na mão, ela mandou a frase: “Skate é, sim, para todo mundo, a gente está podendo provar que felizmente skate não é só para meninos”.

Marta Silva: gol para a noiva na conservadora terra do sol nascente

Marta e Toni – Imagem: @martavsilva10

Eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo, Marta Silva escolheu Tóquio 2020 para homenagear sua amada Toni Deion Pressley. Ao celebrar seu gol no jogo do Brasil contra a China, Marta fez um grande sinal de “T” com os braços e ao ser questionada pela repórter da Globo, disse, com os olhos brilhando, que a “comemoração foi pra Toni”.

Marta e Yoni estão noivas desde janeiro e jogam juntas no time Orlando Pride, equipe de Orlando, na Flórida, dos Estados Unidos.

A Olimpíada com mais diversidade acontece no país em que o casamento entre pessoas do mesmo gênero não é legalizado e há pouca proteção contra a discriminação no local de trabalho ou em público. De acordo com o site outsports, pelo menos 142 atletas LGBT+ estiveram nos Jogos, o que é um recorde. No Rio 2016 foram 56 atletas publicamente LGBT+ nas competições e em Londres 2012, 23. Por motivos óbvios, não há um único atleta assumidamente LGBT+ na delegação japonesa. 

Simone Biles e a coragem de se amar

Simone Biles – Rio 2016 – Foto: Agência Brasil

“Preciso focar na minha saúde mental, temos que proteger nossa mente e corpo e não apenas sair fazendo o que o mundo quer que a gente faça”, explicou a superpoderosa atleta ao desistir de cinco finais de Tokio 2020 após um erro que cometeu no salto.

A decisão gerou debates diversos, desde as pressões enfrentadas pelos atletas olímpicos até a importância dos cuidados com a saúde mental, independente de ser atleta ou não, e a necessidade de estar com o corpo e a mente em sintonia.

Biles é uma mulher negra de 24 anos, ginasta norte-americana de maior sucesso de todos os tempos. Ganhadora de 30 medalhas em Olimpíadas e Mundiais, está a quatro pódios de se tornar a ginasta mais premiada — entre homens e mulheres — da história.

Ao se permitir ser vulnerável e colocar a sua saúde mental em primeiro lugar, Biles resgata em nós o amor-próprio e a consequente necessidade de nos respeitar, a despeito das pressões que podem estar nos estádios, na família ou no mercado de trabalho.

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