Espetáculo “Elegbará” estreia no Teatro Armando Gonzaga, no Rio de Janeiro

Espetáculo “Elegbará” estreia no Teatro Armando Gonzaga, no Rio de Janeiro
ELEGBARÁCRÉDITO: PAMELA NOGUEIRA

Criado por Nyandra Fernandes, “Elegbará” evidencia as possibilidades dos corpos pretos periféricos, sua vivência nas ruas e nas religiões de matriz africana

Cria da Penha, bairro do subúrbio carioca, Nyandra Fernandes atinou pra dança aos 16 anos – embora sinta que o desejo de dançar sempre tenha estado ali. Formada numa escola de dança contemporânea, não parou mais e, em 2021, em meio à pandemia, desenvolveu um “projeto audiovisual dançado”, como ela credencia o trabalho artístico homônimo coproduzido junto ao Festival Panorama e que hoje se torna o espetáculo “Elegbará”, que tem apresentação única no dia 8 de dezembro no Teatro Armando Gonzaga, no Rio de Janeiro.

Sob direção de Nyandra e assistência de Elton Sacramento, o trabalho gira torno da vivência de autora do espetáculo nas ruas e nas religiões de matriz africana, buscando sempre a aspiração de emancipar as suas narrativas, as deslocando de direções eurocêntricas.

A obra de dança inédita mostra o desejo de Nyandra de reafirmar que se faz necessário falarmos dos diversos tipos de corpos e sobre suas particularidades, além de mostrar como eles podem e se comunicam com outros quando possuem o mesmo objetivo – neste caso, a dança. Ela também traz ao palco as religiões de matriz africana, que são inspiração para muitas manifestações populares.

“‘Elegbará’ surgiu da minha necessidade de falar sobre o meu corpo gordo, meus movimentos e as ‘amarras’ as quais ele sempre foi submetido. No trabalho quis exaltar minhas particularidades, que conversam com as de muitas outras pessoas, e ainda falar sobre e exaltar as religiões de matriz africana que fazem parte da minha caminhada. ‘Elegbará’ fala também de lugares não vistos como possibilidade de criação de arte contemporânea, longe dos grandes centros urbanos”, pontua Nyandra.

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“Elegbará” fala do corpo preto, gordo e periférico que conversa com as ruas da cidade, fazendo dela o seu palco. Na montagem, a pesquisa de movimento de Nyandra tem continuidade com outros bailarinos com perfis semelhantes ao citado acima, intencionando “educar” os olhos a verem todos os tipos de corpos no palco. “Por muito tempo corpos como o meu e similares não foram possibilitados de ocupar espaços como os da dança contemporânea. Se hoje eu consigo de alguma forma ocupar este lugar, é para apresentar a possibilidade e mostrar para outras pessoas gordas e periféricas que nossos corpos são potência”, afirma a artista.

Na cena, uma dança afro-brasileira contemporânea, corpos gordos distintos, ancestralidade e possibilidades de ver a rua como é: uma grande encruzilhada que tem diversos caminhos onde a gente se encontra, se perde e dança. São utilizados ainda elementos ancestrais ligados ao candomblé, como padês (comida oferecida à Exu feita de azeite de dendê e farinha de mandioca com folhas de mamona). O projeto é realizado através de recursos do Prêmio Funarj de Dança 2022 e apresentado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa e Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro.

ELEGBARÁCRÉDITO: PAMELA NOGUEIRA

Exibido em espaços relevantes, como o Festival Panorama; 10º Circuito Vozes do Corpo – Cia Sansacroma (2021); 4ª Mostra Sesc de Cinema – Panorama Estadual (2021); Cineclube Tia Nilda (2021); Mostra Egbé – Festival de Cinema Negro de Sergipe (2022) e Psimaré / Que Boca na Cena? (2022), o filme se distancia do espetáculo. “Sempre tive vontade de dar continuidade ao projeto e, por este motivo, busquei incentivo público para isso. E expandir se encaixa também em aumentar a pesquisa para além do meu corpo, é também poder dar estímulo para outros corpos. E podemos já destacar que é essa a maior diferença entre os dois formatos”, finaliza Nyandra.

SOBRE NYANDRA FERNANDES

Mulher, preta, bissexual, artista da dança e cria da periferia do Rio de Janeiro, Nyandra atua há mais de oito anos como bailarina profissional, tendo no currículo turnês nacionais e internacionais, e atuando ainda na dança urbana, contemporânea, danças populares, performance e teatro, e também no audiovisual como equipe de produção e atriz. Com este perfil, Nyandra acredita na importância de fazer com que a arte produzida por pessoas pretas e/ou periféricas alcancem lugares maiores, sendo também de extrema relevância dar visibilidade às produções feitas longe dos grandes centros.

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Serviço:

“Elegbará”

Dia 8 de dezembro; às 20h             

Teatro Armando Gonzaga – Avenida General Osvaldo Cordeiro de Farias, 511 – Marechal Hermes

Ingressos: R$ 10 (inteira) | R$ 5 (meia-entrada)

Venda Online:

https://funarj.eleventickets.com/#!/evento/c21414dc00e33cecc0ff231b410a9c216edbfbf3

Bilheteria: quinta-feira a domingo, das 14h às 18h. Em dia de espetáculo, aberta até às 20h30.

Classificação indicativa: Livre

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