Pobreza menstrual: Organização leva capacitação de absorventes às periferias do Norte e Nordeste

Pobreza menstrual - Organização Rebbú leva capacitação de absorventes ecológicos às periferias do Norte e Nordeste
Rebb· – Oficina de absorventes ecológicos – Emile Gomes

Cerca de 600 mulheres de comunidades periféricas dessas regiões foram beneficiadas pelo projeto “Não à Pobreza Menstrual”

Com uma solução inovadora e que vem das próprias comunidades, a Rebbú, organização de impacto social que promove iniciativas de diversidade e inovação social para reduzir desigualdades sociais e de gênero, desenvolveu o projeto “Não à Pobreza Menstrual”, que leva a capacitação da manufatura de absorventes ecológicos e educação menstrual para pessoas da periferia do Norte e Nordeste.

Os absorventes ecológicos são uma solução a longo prazo para a pobreza menstrual, pois duram até três anos cada um, e cada pessoa que participa do projeto recebe três unidades, número suficiente para um ciclo completo.

A iniciativa possui uma metodologia para que as pessoas capacitadas aprendam a confeccionar os absorventes ecológicos e se tornem agentes de mudança na sua comunidade contra a pobreza menstrual e aliadas às causas ambientais.

Cerca de 60 pessoas já foram capacitadas pelas oficinas, que se tornaram uma nova opção de renda e economia financeira. “Essa oficina chegou em uma boa hora, pois ajuda a ganhar uma renda e também na economia do dinheiro que eu iria usar para comprar dois a três pacotes de absorvente. Agora vou produzir e o dinheiro vou usar para comprar comida para dentro de casa”, conta Francisca Lago, participante da capacitação em São Luís (MA).

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Durante os seis meses de projeto, o Rebbú já passou pelos estados do Amazonas, Pará, Maranhão e Piauí e produziu 1.296 absorventes ecológicos que foram doados para 600 mulheres em situação de vulnerabilidade social e sem condições de comprarem insumos para o seu período menstrual.

Além de receberem os kits menstruais com os absorventes ecológicos, cada pessoa participa de uma roda de conversa sobre educação menstrual, com o foco em ensinar a usar os absorventes e conversar sobre os tabus da menstruação. Para muitas delas é a primeira vez que conversam e tiram dúvidas sobre a temática, sendo um momento de momento de conexão com outras pessoas, mas também de reconexão com elas mesmas.

Para a fundadora do Rebbú, Juliana Gonçalves, o projeto é algo de muito orgulho. “Conseguimos encontrar uma solução para um problema social com a comunidade, que busca resolver o obstáculo da pobreza menstrual através de quatro pilares robustos: empreendedorismo, educacional, social e sustentável. Após a saída do Rebbú, a comunidade possui total autonomia para solucionar o problema”, pontua.

Rebb· – Comunidade recebendo o absorvente – Emile Gomes

Pobreza Menstrual e a realidade do Norte e Nordeste

Calcinha, absorventes, coletores e produtos de higiene são elementos básicos para uma mulher poder realizar sua higiene menstrual, mas isso não é uma realidade para todas. Estima-se que 52% das mulheres no Brasil já sofreram com pobreza menstrual, segundo um levantamento feito neste ano, pelo Instituto de Pesquisa Locomotiva em parceria com a Always.

Pobreza menstrual é o nome dado a essa falta de acesso a meninas e mulheres a produtos básicos para manter a higiene no período da menstruação. Segundo relatório de 2021 do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), o conceito vai além da falta de absorventes, mas envolve a escassez de banheiros, água encanada, informação e recursos para realizar sua higiene. Com essas limitações, diversas mulheres recorrem a alternativas como papel higiênico, roupas velhas, jornais, algodão e, até mesmo, miolo de pão para impedir que o sangue suje as calcinhas.

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Os dados sobre meninas do Norte e Nordeste são ainda mais alarmantes. Segundo o relatório, estima-se que é 23 vezes mais provável que meninas que residam na região Nordeste não tenham acessos aos banheiros exclusivos para moradores em seus domicílios ou terreno, se comparadas às meninas da região Sudeste, e no Norte esse número aumenta para 33 vezes em relação ao Sudeste.

“Norte e Nordeste são as regiões mais afetadas e menos assistidas pela pobreza menstrual. Nosso impacto traz a voz de mais de 600 pessoas que receberam os absorventes produzidos na própria comunidade. São vozes que clamam por políticas públicas dignas para sua saúde. Essas pessoas merecem muito mais do que o absorvente mais barato do mercado, elas merecem saúde, informação, produtos de qualidade e sustentáveis”, destaca a fundadora do projeto.