Galatea abre o ano com retrospectiva da artista carioca Marília Kranz

Galatea abre o ano com retrospectiva da artista carioca Marília Kranz
MARÍLIA KRANZCRÉDITO: RAFAEL SALIM

Mostra apresenta esculturas e pinturas que cobrem a trajetória percorrida pela artista desde os anos 60 até os anos 2000

A partir do dia 9 de março, quinta-feira, às 18h, a galera de arte Galatea, em São Paulo (SP), expõe um panorama retrospectivo da obra de Marília Kranz (1937-2017).

Nascida no Rio de Janeiro, Marília foi pintora, desenhista e escultora, e passou a ter seu espólio oficialmente representado pela galeria paulista a partir do ano passado.

A mostra “Marília Kranz: relevos e pinturas” apresenta cerca de 30 obras, entre esculturas e pinturas, que cobrem a trajetória percorrida pela artista desde os anos 60, fase inicial de sua produção, até os anos 2000.

Quem assina o projeto expográfico da mostra é Marieta Ferber, designer e diretora de arte.

Resgate da obra da artista

A escolha do nome de Marília Kranz surgiu através de uma pesquisa de Conrado Mesquita, um dos sócios da galeria, que estabeleceu contato com as filhas da artista.

Então responsáveis pelo espólio da artista, ficaram muito entusiasmadas com esse projeto de resgate de sua obra no contexto atual da arte no Brasil e com a expansão do seu alcance para além do mercado do Rio de Janeiro, onde a artista sempre foi apreciada.

A trajetória de Marília Kranz

Pioneira na luta pelo feminismo, Marília Kranz dedicou-se, nos primeiros anos de sua carreira, ao desenho e ao estudo da pintura. Em dado momento, começou a explorar o campo da abstração geométrica, produzindo em relevos como gesso, papelão e madeira, e que integraram a sua primeira exposição individual, em 1968, na Galeria Oca, no Rio de Janeiro.

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Em 1969, ao retornar de viagens que fez à Europa e aos Estados Unidos, passou a produzir os relevos a partir da técnica de moldagem a vácuo (vacuum forming), usando plástico, fibra de vidro, resina e esmaltes industriais; além de esculturas em acrílico cortado e polido, chamadas de Contraformas.

A técnica foi inovadora, já que, à época, era pouco difundida no Brasil até mesmo no setor industrial. Além disso, o conteúdo dos trabalhos era carregado de forte caráter experimental.

MARÍLIA KRANZ CRÉDITO: RAFAEL SALIM
MARÍLIA KRANZCRÉDITO: RAFAEL SALIM

Segundo o crítico de arte Frederico Morais, a formas abstratas e geométricas exploradas nestas obras – e na produção de Marília Kranz como um todo – se aproximariam mais de artistas internacionais como Ben Nicholson (Inglaterra), Auguste Herbin (França) e Alberto Magnelli (Itália) do que das vertentes construtivistas de destaque no Brasil, como o Concretismo e o Neoconcretismo.

A partir de 1974, a artista retomou o trabalho com pinturas sobre tela, mas desta vez o foco era outro: imagens de paisagem carregadas de certa volúpia. A artista passou a trazer para o centro da tela elementos constituintes das suas paisagens preferidas no Rio de Janeiro.

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Comparada a artistas como Giorgio de Chirico e Tarsila do Amaral, os seus cenários e figuras geometrizadas e oníricas, beirando a abstração, evocam solenidade e erotismo.

Os tons pastéis, por sua vez, tornaram-se a sua marca.

Ao observarmos as flores e as frutas que protagonizam com grande sensualidade várias de suas pinturas, pensamos também em Georgia O’Keeffe, considerada por Marilia Kranz sua “irmã de alma”.

Transição

Na exposição, será possível acompanhar a passagem, dentro do percurso da artista, de uma geometria abstrata e formalista dos relevos do fim da década de 1960 para a pintura de paisagem – figurativa, mas com intrusões da geometria – que começa a desenvolver em meados da década de 1970 e que explora até o fim de sua produção. Marilia passa de uma estética de certa forma “fria, formalista ou racional” para algo mais “quente, fluido, afetivo”, inspirada também por sua paixão pela paisagem do Rio de Janeiro e pela pauta da liberação sexual feminina.

Nessa transição entra o erotismo das flores, por exemplo, que a conecta com a pintura de Georgia O’Keeffe, e as cores e paisagens que a aproximam tanto da Tarsila de Amaral Pau-Brasil/Antropofágica quanto das paisagens vazias e solenes dos metafísicos que influenciariam o surrealismo, como Di Chirico.

Marília Kranz foi selecionada pela Galatea como a primeira mulher de muitas que estão nos planos de representação da galeria.

Tornou-se conhecida por sua ativa defesa em prol da libertação sexual e da liberdade política durante a ditadura militar no Brasil (1964 a 1985), além da luta pelas causas ambientais, atuando como uma das fundadoras do Partido Verde em 1986.

Expôs em galerias e instituições nacionais e internacionais, recebendo prêmios em razão de suas pinturas e esculturas. Em 2007, foi homenageada na grande exposição retrospectiva “Marília Kranz: relevos e esculturas”, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio).

Serviço:

“Marília Kranz: relevos e pinturas”

Galatea – Rua Oscar Freire, 379, loja 1 – Jardins, São Paulo (SP)

Visitação de 9 de março a 29 de maio, de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h; e aos sábados, das 11 às 15h

Informações: https://www.galatea.art/

Estacionamento no local

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