“NQHOMA – Nós Que Habitamos o Mundo Alheio” reúne 14 artistas mulheres em mostra inédita em Campinas (SP)

NQHOMACRÉDITO: DIVULGAÇÃO

Nome intrigante contesta a baixa presença feminina em espaços e exposições de arte pelo mundo, um passado que persiste no presente

Com organização e produção de Ligia Testa, uma das mais renomadas curadoras de arte de Campinas (SP), a exposição “NQHOMA – Nós Que Habitamos o Mundo Alheio”, aberta à visitação até 20 de agosto na Galeria Arqtus, coloca a mulher no centro e traz reflexões multilaterais sobre sua presença (ocultada) no mundo da arte.  

“As mulheres precisam estar nuas para entrar no Metropolitan Museum, em Nova York? Na seção de arte moderna, 5% dos artistas são mulheres, mas 85% da nudez nas obras é feminina.”  O contexto é um alerta da Guerrilla Girls, grupo nova-iorquino de artistas feministas anônimas que combatem sexismo e machismo no mundo da arte. 

A reforma do Museum of Modern Art (MOMA), em Nova York, que custou 450 milhões de dólares, começa a soprar sinais de mudança. A reforma foi além da estrutura arquitetônica e da ampliação dos espaços, com a proposta de aumentar a diversidade, contemplando mais obras de artistas femininas e de trabalhos de outras regiões do mundo.

E mais perto de nós, no Museu de Arte de São Paulo (MASP), o que dizem os números? Apenas 6% dos artistas do acervo em exposição são mulheres, e 60% dos nus são femininos. Enfim, os números gritam algo silenciado.

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Estamos em pleno século 21, é verdade, mas a igualdade de gênero no universo das artes está longe da superação. Linda Nochlin, historiadora da arte, no artigo “ “Por que não houve grandes mulheres artistas?”, reivindica um novo paradigma à história da arte mostrando que as barreiras da sociedade impediam (no passado) e ainda impedem (no presente) as mulheres de desenvolverem seu lado artístico e de obterem reconhecimento como artistas. É o que revelam as histórias das artistas que fazem parte da mostra “NQHOMA”.

“A proposta desta exposição é mais uma de muitas iniciativas para provocar conversas, reações, discussões, para adensar a busca pela igualdade de gênero nos acervos mundo afora, e para propiciar que as pessoas contemplem a arte produzida do ponto de vista feminino” , explica Lígia Testa.

Estão expostas obras das artistas Cristiane Maschietto, Cristina Sagarra, Di Miranda, Doris Homann, Duda Clementino, Fernanda Carvalho, Flavia Jackson, Gisele Faganello, Josie Mengai, Mariana Gadelha, Nadir Santilli, Nenesurreal, Olívia Niemeyer e Tania Martins. Jovens, maduras, brancas, negras, periféricas, mães, donas de casa, arquitetas, engenheiras, jornalistas, fonoaudiólogas, economistas, linguistas, psicólogas, instrumentadora cirúrgica, elas são de diferentes universos, mas antes de tudo mulheres e minoria nas galerias do mundo. Doris Homann, nascida em 1898, migrante da Segunda Guerra Mundial, representada por suas obras, que mostram uma mulher muito à frente de seu tempo.

Vindas de diversas cidades, próximas e distantes, como Hong Kong, Escócia, Estados Unidos e Berlim. Solteiras, casadas, divorciadas, viúvas. A exposição reúne uma coletânea de histórias diferentes, mas em comum pesa a consciência de que não é fácil morar no mundo alheio, onde não são convidadas naturalmente a participar.  

Entre elas, a descoberta da necessidade de produzir arte veio de maneiras diferentes e em tempos próprios a cada uma, mas hoje é o que fazem para viver, em suas distintas propostas – de pagar as contas do mês a amenizar o caos do mundo atual, mas com um único sentido para todas: superar a luta diária de ainda não ter o próprio mundo para viver. A diferença é que elas, com seus talentos e criatividade, estão construindo este mundo para as futuras gerações habitarem: filhas, netas, bisnetas, para que tantas novas gerações de mulheres ocupem os espaços das artes.

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Historicamente o tema tem suas injustiças conhecidas no mundo das artes, com mulheres que tiveram suas obras apropriadas por seus pares como Camille Claudel, Margaret Keane e outras. Ainda hoje não é incomum o relato de artistas mulheres que deixaram para se dedicar ao mundo da arte depois que os filhos cresceram, pela imposição do sistema ou por si mesmas.

Estas histórias entrelaçadas falam de ressignificar, de ocupar espaços e mundos habitados a partir de uma ótica legitimamente feminina, acolhedora, protagonista.    

Serviço:

“NQHOMA – Nós que habitamos o mundo alheio”

Visitação: até 20 de agosto, com agendamento pelo whatsapp (19) 99792- 7221

Galeria Arqtus – Avenida Dr. Heitor Penteado, 1611 – Taquaral – Campinas (SP)

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