Nota de apoio a Fernanda Barbieri e repúdio à lentidão da Justiça

 Nota de apoio a Fernanda Barbieri e repúdio à lentidão da justiça

Néias-Observatório de Feminicídios Londrina vem a público manifestar apoio à servidora pública Fernanda Barbieri, londrinense vítima de violência doméstica que vive exilada em função das ameaças de seu ex-companheiro, o promotor de Justiça Bruno Vegaes. 

Conforme matéria veiculada pelo jornal O Globo, Vegaes já violou medidas protetivas concedidas à ex-esposa 101 vezes, enquanto Fernanda segue sem convívio social, refém do medo, pela vida dela e da filha.

Nesta mesma oportunidade, manifestamos repúdio à lentidão e aparente leniência da justiça diante do caso. Conforme a mesma matéria, em julho de 2020 o promotor teve a prisão decretada pelas violências cometidas, sendo a mesma convertida em prisão domiciliar. Poucos meses depois, porém, em setembro de 2020, a prisão foi revogada sob argumento de que Vegaes havia compreendido “quão censurável tem sido seu comportamento em relação à ex-mulher”. Causa-nos repulsa que um suposto arrependimento sirva como motivo para revogação da prisão do agressor.

A história de Fernanda não era desconhecida deste Observatório. Em novembro de 2021, quando Néias promoveu a campanha “As Néias querem saber”, a servidora deu seu relato a uma de nossas voluntárias, mas ainda sem a segurança de nomear seu agressor (leia abaixo). Lamentamos que passados tantos meses ela ainda esteja envolta no mesmo clima de medo e insegurança, decorrente da aparente proteção do agressor por parte da justiça.

No dia da veiculação da matéria de O Globo, o Ministério Público do Paraná emitiu uma longa nota na qual demonstra estar agindo em favor da vítima desde o recebimento das primeiras denúncias. Questionamos, no entanto, como o órgão mantém ativo em seus quadros um comprovado agressor? Quais os critérios para afastamento e/ou perda do cargo? São respostas importantes de serem dadas à vítima e à sociedade. 

A história de Fernanda comprova o quanto a segurança e a vida das mulheres são relegadas na sociedade machista e patriarcal em que vivemos. Até quando a palavra dos homens continuará tendo maior peso que a das mulheres? 

Esperamos que Fernanda possa recuperar sua vida plena em breve, com respostas assertivas da justiça, após a repercussão nacional do caso – último recurso enxergado por ela com o injusto de ser ouvida.

#justicaporFernanda

#nenhumaamenos

Londrina, 03 de julho de 2023.

Depoimento de Fernanda para Néias em novembro de 2021

”Sofri violência doméstica, inclusive sexual. Denunciei, mas foi e tem sido muito difícil, porque ainda não saiu nada do papel. Na delegacia da mulher fui revitimizada com perguntas do tipo “Ele colocou a faca na sua barriga, mas ficou cicatriz?”, um total descrédito à palavra da mulher. E como se só se configurasse violência doméstica aquela que deixa marcas. Penso numa mulher que não tem assistência, que não tem conhecimento, que não entende o que ela está vivendo e tem um tratamento que não é acolhedor. Como você vai falar para denunciar?

Hoje o que acontece: eu que não saio de casa, eu não trabalho, eu que me escondo. É dificil para uma mulher entender os riscos, não se sentir culpada. E quando você vê que não dá em nada, ainda… Quando eu digo que não deu em nada é porque não teve decisão final. Mas eu consegui medida protetiva e o botão do pânico da Guarda Municipal. Talvez eu tenha salvado minha vida com isso. Eu acredito até que não poderia estar mais aqui.”

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