Pagã: Pinacoteca de São Paulo inaugura mostra transdisciplinar de Regina Parra

Pinacoteca de São Paulo inaugura mostra transdisciplinar de Regina Parra

Exposição Pagã ocupa o segundo andar da Pinacoteca Estação e foi construída em diálogo com as artes visuais, cênicas e literárias

A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, inaugurou no começo deste mês de abril a exposição “Pagã”, da artista Regina Parra, no 2º andar da Pinacoteca Estação.

Em diálogo com diferentes campos criativos, a artista transforma o museu em espaço cênico para contar a história de uma mulher que abdica de uma vida socialmente confortável e inicia um ritual de descoberta e transformação de si e do seu corpo.

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Regina Parra tem uma produção em pintura, audiovisual, instalações e performances. Nos últimos anos, sua pesquisa se deteve sobre questões ligadas às representações de mulheres como corpos dissidentes em sociedades patriarcais e falocêntricas.

Em “Pagã”, projeto experimental desenvolvido para a Pinacoteca, a artista fala sobre o corpo feminino, seu prazer, liberdade e insubordinação. Em uma espécie de peça teatral dividida em nove cenas, Parra convida o público a percorrer uma travessia de referências em pinturas, performance, escultura, vídeos e neons para acompanhar a saga de Pagã.

“Esse trabalho confirma e potencializa o que Regina vem construindo nos últimos anos, uma pesquisa de cunho experimental e que demarca uma reaproximação da artista com o teatro, sua formação de origem. Para refletir sobre o lugar da mulher em sociedades patriarcais, Regina constrói uma dramaturgia em que, como nas criações cênicas, diferentes experiências e saberes se cruzam e alcançam uma dimensão coletiva. Essa dimensão coletiva perpassa desde a produção até a recepção das obras”, conta a curadora da mostra, Ana Maria Maia.

Pagã

Uma personagem que é o arquétipo de uma mulher, ou um espelho, de identidade individual, mas às vezes coletiva, Pagã atende ao chamado e inicia um ritual de descoberta.

Na primeira cena da mostra, sua história se cruza a da jovem retratada nos afrescos da Vila dos Mistérios, na cidade italiana de Pompéia, no século 2 a.C. No culto greco-romano, essa personagem ultrapassa o portal dos sátiros e entrega seu corpo a Dionísio, sendo então submetida a um ritual em que desce ao nível animal, deseducando-se do repertório adquirido.

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Assim como no mito, a mulher se entrega ao ritual, rompendo com o que lhe foi imposto, em uma experiência representada pelo quadro “Pagã” (2023).

O percurso da Pagã se entrelaça então com outras sagas e tempos, em uma tentativa que para a artista perpassa o desejo de encontrar o tempo mítico no cotidiano.

Na mostra, a jovem de Pompéia se confunde com G.H., personagem de Clarice Lispector do romance “A paixão segundo G.H.” (1964), que acessa um fluxo de consciência revelador sobre sua condição de gênero e classe social após se deparar com uma barata em seu apartamento.

O estado agudo de crise da personagem dessa obra paradigmática da literatura brasileira do século 20 reverbera em oralidades, danças e lamentos, igualmente afeitas a propagar emoções sem fazê-las caberem em palavras.

Assim, algumas interpretações da mitologia grega também compõem a personagem, como Electra, Minotaura e a Cabra, citadas em performances e instalações audiovisuais.

Transitando por diferentes linguagens e referências em cada ato, a artista revela o desejo de que as mulheres se reconheçam no arquétipo de Pagã, que em nove cenas ocupa todo o espaço expositivo do segundo andar da Pinacoteca, em uma experiência de reconhecimento do seu corpo e de si.

Os trabalhos de Parra se transformam em um vocabulário poético e político, em uma jornada que termina na reapropriação do próprio gozo, com a pintura “O gosto do vivo” (2023).

Serviço:

“Pagã”

Visitação até 13 de agosto, de quarta à segunda, das 10h às 18h

Pinacoteca Estação

Largo General Osório, 66 – Santa Ifigênia, São Paulo (SP)

Telefone: (11) 3335-4990

Entrada gratuita

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