Caso Cuca: defesa masculina – como sempre – do indefensável

Imagem: site torcedores.com

A coluna Fala Firmina aborda o Caso Cuca e determinadas posturas de jogadores e comentaristas da mídia e redes sociais que, mesmo sob protesto da torcida organizada, “passam pano” para o técnico condenado por estupro

Como corintiana desde que me entendo por gente, estou aliviada por ver que Cuca não é mais técnico do time. Ainda assim, sobrou aquele gosto amargo na boca, porque sua saída não foi provocada pela equipe ou pela diretoria, mas por uma decisão dele mesmo. A cena dos jogadores o abraçando ao final do jogo de ontem – liderados pelo meu ex-ídolo Cássio – é um imenso tapa na cara das torcedoras. A defesa de Roger Guedes foi outro tapa. E de tapa em tapa nós mulheres mais uma vez constatamos que, como sempre, somos nós por nós.

Nas matérias sobre a saída de Cuca do Corinthians tenho visto muitos comentários em defesa do técnico, 99% delas vindos de homens, desde “nossa, mas o cara vai ser punido eternamente pelas redes sociais”, passando pela “tem menina de 13 anos que sabe muito bem o que está fazendo”, até a clássica “quem nunca errou que atire a primeira pedra”.

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Cuca não está sendo “punido” pelas redes sociais. Cuca foi julgado e condenado pela Justiça suíça. Diferentemente do que ele afirmou, a menina o reconheceu SIM, e seu sêmen foi encontrado nela. Não foi um caso baseado em “teria, seria, poderia”, mas sim em PROVAS. É irônico ver um povo que até pouco tempo atrás defendeu com unhas e dentes uma condenação baseada em “convicções” de repente achar que provas não são o suficiente para condenar um homem acusado de estupro. Pois bem, diferentemente do que muitas vezes acontece no Brasil, na Suíça as provas foram suficientes.

Cuca NUNCA reconheceu seu crime. Muito pelo contrário. Não cumpriu pena, na época do caso tentou dizer que a menina é quem tinha ido pedir por sexo, até hoje minimiza o fato e se coloca como vítima de toda a situação. Sim, será julgado por muita gente, EXATAMENTE por seu comportamento sórdido.

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Sobre a menina, que inclusive tentou suicídio após o estupro, é claro que não faltaram comentários depreciando seu caráter e colocando em dúvida seu comportamento. Como se ela tivesse “pedido” para ser estuprada. A velha lógica de que uma menina de 13 anos “sabe muito bem o que está fazendo”, enquanto homens adultos foram vítimas dela ou então de seus próprios instintos animais. É como dizer que homens são seres irracionais que não sabem se segurar frente a uma “fêmea”. Só faltam dizer que foi ela quem estuprou os jogadores.

Imagem: Reprodução do Twitter

Por último, a velha lógica de que “todo mundo erra e tem defeitos”. Sim, todo erra e tem defeitos. Mas estupro não é “defeito”. Não é “erro”. Erro é eu dar seta à direita e entrar na esquerda por distração. Ainda assim, se causar um acidente, se atropelar ou matar alguém, terei de prestar contas à Justiça por isso. Mesmo que tenha sido um erro. Estuprar uma menina de 13 anos não é “erro”.

É crime. Teve sêmen, teve reconhecimento, teve condenação, teve uma menina que tentou suicídio. Mas para esses homens – quando admitem que Cuca “possa ter estado” com a garota -, isso foi um “erro” que, com o passar dos anos, não somente pode como deve ser esquecido.

Um “erro” pelo qual o técnico, repito, NUNCA se desculpou nem admitiu ter cometido, a despeito das provas e da condenação. Não exijam perdão a alguém que sequer admite ter feito o que fez. Perdão a gente oferece a quem se arrepende. Não a quem tenta culpar a vítima pelo próprio crime sofrido.

#semperdao